Agora, furo jornalístico é censurado e gera punição

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O repórter Gustavo Queiroz, por apresentar um furo jornalístico em seu canal MTED, do YouTube, e antecipar o anúncio de um segredo que seria lançado pela fabricante IVECO foi denunciado por direitos autorais e teve sua matéria retirada do ar na rede social.

Com isso, ele tomou um strike do YouTube (uma espécie de advertência), o que afeta a credibilidade do seu canal, que pode ser retirado do ar permanentemente, caso receba 3 strikes.

Este fato é lamentável, pois Gustavo é um jovem profissional e tem como pai, Roberto Queiroz, um dos mais experientes e respeitados jornalistas especializados em transporte rodoviário. Justamente a área em que a IVECO atua.

Ele foi, inclusive, desconvidado de participar do evento que a IVECO realizou em Minas Gerais, onde está localizada a fábrica, para apresentar a sua nova linha de caminhões e ônibus.

A punição a Gustavo foi motivada pela revelação de um segredo, guardado para ser transmitido somente no dia do evento como grande surpresa para os mais de 100 representantes da rede de concessionários da empresa de todo o território brasileiro e o jornalista, no cumprimento de sua missão, fez com que alguns deles tomassem conhecimento antecipado.

O engraçado é que o jornalista recebeu o referido conteúdo de um “informante”, amigo de um funcionário da empresa que teve acesso antecipado ao material e remeteu um folder com informações e imagens dos novos veículos.

O episódio me faz voltar 50 anos (meio século) ao meu tempo de jovem profissional quando me tornei na grande preocupação das fábricas de veículos por justamente ter a maior rede de informantes do mercado automobilístico brasileiro e, com esse relacionamento, ter informações sobre tudo o que estava sendo preparado por cada empresa.

Tempo em que, mais que a revelação da uma surpresa aos concessionários, me arrisquei em beligerantes ações em busca de informações e imagens de futuros lançamentos da indústria, como a invasão aérea, usando um helicóptero, à chácara da Willys Overland onde o principal segredo era a primeira limusine brasileira, projetada para doação ao presidente Castelo Branco, para utilizar um automóvel nacional em importantes eventos oficiais.

Esse episódio mereceu uma reportagem da primeira visita do novo presidente a São Paulo, com o título: “Presidente, eis seu novo carro!”

E não eram apenas gentilezas de um funcionário para agradar um jornalista. Eram ações que exigiam ousadia, estratégia e muita disposição para vencer os obstáculos normais adotados pelas empresas para evitar a revelação dos segredos industriais.

Nesse dia, no auge da ação, precisei usar um revólver para evitar agressão ao fotógrafo, cercado por uma turba enraivecida com a interrupção do trabalho da agência de publicidade que iniciava as ações para a campanha de marketing desenhada pela equipe de criação.

O ato foi encerrado por uma trombada de um carro utilizado por um funcionário da empresa, como vingança por não conseguir evitar as fotos da linha de automóveis da empresa e do modelo presidencial.

Também lembro do cerco realizado por três carros da polícia, empunhando metralhadoras por termos fotografado um novo modelo de Chevrolet Opala e de uma detenção policial em um hotel no centro de São Paulo por fotografar desenhos de futuros modelos da Chrysler. E, também, e uma luta corporal que mantive com um funcionário do estúdio que tentou impedir a fotografia de outro segredo.

Diferente do como os empresários de hoje reagem diante de uma revelação antecipada de um modelo ou de uma campanha, há meio século o anúncio de segredos eram apreciados por leitores e consumidores sempre ávidos por novidades o que criava uma forte expectativa pelos novos produtos a serem lançados.

Toda essa atividade e espaço nos jornais e revistas da época ajudaram a dar ao setor automobilístico brasileiro mais dinamismo e exposição, atraindo repórteres que, nesse trabalho de anunciar o que eram segredos, criavam um sentimento especial de valorização e importância que, atualmente, deixou de ser valorizado pelas publicações. As informações perderam o interesse que existiu no passado e passaram a ser temas normais, sem o entusiasmante alarde.

No decurso de 50 anos houve uma grande evolução e forte modernização das relações profissionais e humanas e os executivos tinham um comportamento mais ameno e também mais inteligente.

Embora eu fosse visto como um inimigo, era muito bem recebido pelos diretores das fábricas e sempre desfrutei de tratamento respeitoso e compreensão pelo meu interesse em revelar as novidades previamente.

Apesar de causar preocupações aos executivos da época lembro do presidente da Ford que, em vez de me excluir dos eventos da empresa, convidou-me para comandar a sua equipe de comunicação social.

Uso este exemplo como sugestão aos executivos da IVECO, que admiramos pelo excelente trabalho realizado para posicionar a marca entre as líderes do mercado brasileiro.

Incluam entre os objetivos da empresa a adoção de um estilo compreensivo que promova a integração dos profissionais de imprensa, mesmo aqueles mais impetuosos que desejam ser os primeiros a revelar uma grande notícia.

Para quem da rede de concessionários IVECO em todo o Brasil que teve a oportunidade de ver antecipadamente as imagens dos novos caminhões, garanto que se entusiasmaram em viajar a Belo Horizonte para conhecer de perto as inovações estéticas e tecnologias introduzidas nos veículos.

Eu, que vi apenas uma fotografia, fiquei motivado a visitar uma concessionária para me certificar do novo estilo da cabine e das modernizações introduzidas pela montadora.

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Luiz Carlos Secco é publicitário e fundador da Secco Consultoria de Comunicação. Profissional de comunicação especializado no setor automobilístico e esportes, atua como assessor de Imprensa desde 1986. Ao longo de sua carreira prestou serviços a diferentes clientes, entre montadoras e sistemistas e publicou artigos em diversas publicações. Atualmente, produz os podcasts Muito Além de Rodas e Motores e Mobilidade Inteligente. É também articulista da revista Acontece, de Caxias do Sul, RS.

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