A matadora de Toyotas

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Ah, esses franceses! Na comemoração do centenário, mostraram que a corrida mais charmosa do mundo continua jovem, surpreendente, reveladora e emocionante. Uma festa que atraiu as atenções do mundo, onde todos gostariam de estar para curtir os agradáveis sentimentos que essa famosa corrida de automóveis costuma transmitir. E com sua atração natural, a centenária corrida francesa foi além do esperado.

Primeiro, com a vitória, a Ferrari quebrou o domínio que a japonesa Toyota impôs por cinco anos e conquistou o Troféu Centenário das 24 Horas de Le Mans. A marca que maior tradição possui no automobilismo e na produção de carros esportivos, retornou ao pódio depois de 58 anos da fragorosa e histórica derrota imposta pela Ford, com os automóveis Ford GT40 no final da década de 1960, ocorrida após um desentendimento comercial entre Henry Ford II e Enzo Ferrari.

A última vitória da Ferrari havia sido em 1965, antes da sequência de conquistas do Ford GT 40 e, com o desempenho deste ano, a fabricante italiana garantiu, com o modelo 499P, pilotado por Antonio Giovinazzi, Alessandro Pier Guidi e James Calado, a sua décima vitória absoluta.

O êxito da Ferrari me faz voltar aos anos 60 quando acompanhei tanto o último primeiro lugar da Ferrari quanto a chegada dos Ford GT 40, apelidado de “O matador de Ferraris”.

Para mim, uma especial satisfação por poder vivenciar todos esses acontecimentos incríveis.

Os carros são outros, completamente diferentes. Agora híbridos, mas os desafios de se pilotar por 24 horas em um dos circuitos mais velozes do mundo continuam os mesmos e atraindo cada vez mais público, pilotos e marcas.

E por falar em marcas, essa 91ª edição das 24 Horas, voltou a contar com muitas fabricantes desenvolvendo protótipos para a categoria Hypercars. Durante muitos anos, houve poucas marcas, como Audi, Porsche, e, mais recentemente, a Toyota que reinavam sozinhas.

Este ano, foram 5 grandes fabricantes com equipes oficiais: Ferrari, Toyota, General Motors (com a Cadillac), Peugeot e Porsche (com a Penske), disputando a vitória na geral. Entre os oito primeiros, quatro dessas marcas (Ferrari, Toyota, Cadillac e Peugeot). Apenas a Porsche ficou de fora, com o abandono dos seus carros.

E para o ano que vem, está previsto o retorno da BMW na Hypercars.

Até a General Motors prestigiou a festa centenária de Le Mans com o projeto de automóveis, transformando um de seus modelos de luxo, o Cadillac, em carro de corrida, completando o trio principal de concorrentes que fizeram o show em disputa pela vitória. E a General Motors também usou o ambiente de Le Mans para comemorar os 70 anos de mercado de seu primeiro modelo esportivo, o Chevrolet Corvette que venceu a categoria GTE.

Quem viu a corrida pela TV percebeu o tradicional bom gosto francês na pista de corridas, embelezada pelos cuidados da organização de todo o evento, a montagem dos boxes e dos locais para os convidados, a decoração da pista, com pintura de funções de segurança aos pilotos e embelezamento de todo o ambiente. Um cenário digno para uma grande festa. E eu, que participei de muitos eventos automobilísticos confesso que gostaria de ter estado em Le Mans.

Falando um pouco mais sobre a corrida, a Ferrari venceu com os pilotos Antonio Giovinazzi, Alessandro Pier Guidi e James Calado. A segunda posição pertenceu à Toyota, sob a condução de Ryo Hirakawa, Sébastien Buemi e Brendon Hartley, que lutaram com muito equilíbrio até a penúltima hora, quando a Ferrari conseguiu maior vantagem.

O Cadillac, pilotado por Earl Bamber, Alex Lynn e Richard Westbrook classificou-se na terceira posição e, a marca também obteve o quarto lugar com Sébastien Bourdais, Scott Dixon e Renger van der Zandlargoie. Uma segunda Ferrari, que largou na pole-position, fechou o grupo de cinco melhores classificados conduzida por Antonio Fuoco, Miguel Molina e Nicklas Nielsen.

Muitos dos 16 hipercars do grid de largada lideraram em algum momento durante as primeiras horas da prova que teve instantes de forte chuva e que provocaram uma série de acidentes e incidentes de corrida.

Este ano, os brasileiros não foram bem. O melhor classificado foi Derani, que ficou na 17ª. Colocação na classificação geral e 10º enrte os Hypercars. Alexandre Negrão terminou em 19º na geral e 9º na categoria LMP2.

Daniel Serra, com a Ferrari da equipe Kessel, chegou a liderar na sua categoria, mas depois de 254 voltas, seu carro saiu da pista, bateu e abandonou a corrida. Daniel Serra teve como companheiros, Takeshi Kimura e Scott Huffaker.

O Alpine de André Negrão, Memo Rojas e Olli Caldwell completou a prova na nona posição na categoria LMP2, depois de sofrer um incidente com o Toyota de Kamui Kobayashi.

Pietro Fittipaldi, David Heinemeier-Hansson e Oliver Rasmussen, com o JOTA, chegaram a liderar na sua categoria, mas sofreram uma batida e também um problema mecânico e terminaram em 13º lugar.

A Action Express, com Pipo Derani, Alexander Sims e Jack Aitken, sofreu um acidente na primeira volta e também foi prejudicada na fase final da corrida, pelo carro ter ficado preso na área de brita. Felipe Nasr, Mathieu Jaminet e Nick Tandy abandonaram com problema mecânico, com menos de sete horas.

A classe LMP2 também produziu um emocionante confronto direto desde o amanhecer entre o automóvel Oreca 07-Gibson inscrito pela Inter Europol Competition e carro 41, também Oreca 07-Gibson do Team WRT. O piloto suíço estreante Fábio Scherer segurou o compatriota Louis Delétraz para garantir a vitória para a equipe polonesa e dividiu o volante com o polonês Jakub Smiechowski e o espanhol Albert Costa.

Na categoria LMGTE-Am, a vitória pertenceu ao Chevrolet Corvette de Nicky Catsburg, Ben Keating e Nicolas Varrone. A segunda posição ficou com o Aston Martin de Ahmad Al Harthy, Michael Dinan e Charlie Eastwood, enquanto Michael Wainwright, Benjamin Barker e Riccardo Pera, com um Porsche da GR Racing, terminaram na terceira posição.

A Iron Dames, time feminino de Michelle Gatting, Sarah Bovy e Rahel Frey, completou a corrida na quarta posição, depois de chegar à 20ª hora na liderança de sua corrida.

A Le Mans deste ano também contou com a participação de um Camaro da Nascar norte-americana. O carro competiu como convidado em uma categoria de veículos inovadores e completou a prova na 39ª posição depois de ter problemas no câmbio.

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Luiz Carlos Secco é publicitário e fundador da Secco Consultoria de Comunicação. Profissional de comunicação especializado no setor automobilístico e esportes, atua como assessor de Imprensa desde 1986. Ao longo de sua carreira prestou serviços a diferentes clientes, entre montadoras e sistemistas e publicou artigos em diversas publicações. Atualmente, produz os podcasts Muito Além de Rodas e Motores e Mobilidade Inteligente. É também articulista da revista Acontece, de Caxias do Sul, RS.

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