O marechal da vitória e a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida

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Na última quinta-feira (24), a seleção brasileira de futebol estreou na Copa do Mundo, no Catar, em busca do hexacampeonato mundial e esse acontecimento me faz lembrar de uma experiência que vivenciei no início de minha carreira de jornalismo. Por isso, hoje o automobilismo cede espaço para o futebol.

Em meu estágio no jornal O Estado de S. Paulo, acompanhei vários esportes e, um dia, fui escalado para seguir os bastidores do futebol, como responsável pelas notícias com visitas diárias em fins da tarde à sede da Federação Paulista de Futebol, normalmente frequentada por importantes personalidades, especialmente presidentes e diretores dos principais clubes de São Paulo.

Foi um período de grande aprendizado porque passei a acompanhar o trabalho do presidente da entidade, João Mendonça Falcão, do presidente do Corinthians, Vicente Mateus, do advogado Nelson de Castro Bigi, presidente do Tribunal de Justiça Desportiva e outros dirigentes do futebol.

Todos, importantes personalidades com os quais pude aprender muito, uns simpáticos, que atendiam os jornalistas com atenção e alguns que evitavam a imprensa. Os encontros ficavam mais animados quando surgia o dr. Paulo Machado de Carvalho, proprietário da TV e rádio Record e Rádio Pan-Americana, hoje Jovem Pan. Na época, o doutor Paulo recebeu o apelido de Marechal da Vitória, por ter sido o chefe do projeto que levou o Brasil a conquistar a Copa do Mundo dos anos de 1958 e 1962.

Atencioso, elegante, eloquente e comunicativo, atraia as atenções pelas histórias que contava sobre a experiência acumulada. Por isso, vocês podem imaginar a satisfação de estar de frente a esse símbolo do futebol e da radiofonia brasileira.

Entre as histórias que prendiam as atenções dos jornalistas, que se comportavam como crianças em dia de festa ou de Natal, a mais dramática foi a que precisou imaginar como transmitir aos jogadores uma notícia sobre o sorteio de camisas a serem usadas no jogo decisivo da Copa de 1958, entre o Brasil e a Suécia.

O que os jornalistas ouviram foi uma aula sobre comportamento positivo que aos grandes líderes ocorre diante de um episódio de difícil administração, que depende de ponderação, tranquilidade, criatividade, coragem e grande poder de persuasão. Por sorte, além do respeito que desfrutava por sua personalidade, ele reunia todas essas virtudes.

Brasil e Suécia foram classificados como finalistas para a decisão da Copa do Mundo de 1958 e as duas equipes tinham como uniforme as camisas amarelas. E, naturalmente, ambas pretendiam disputar o jogo decisivo com as camisas titulares, que influenciam psicologicamente os responsáveis pela batalha. A Suécia ponderava que, por sediar a Copa, tinha a prioridade de usar as suas camisas titulares. Mas a comissão técnica da Copa do Mundo, pelo fato de que o regulamento não previa uma decisão para uma igualdade de uniformes determinou a realização de um sorteio.

No dia do sorteio, o dr. Paulo Machado de Carvalho temia que a eventual obrigatoriedade de usar as camisas azuis provocasse uma negativa influência psicológica nos jogadores e que, por isso, viessem a deixar escapar a oportunidade de conquistar o primeiro título de campeão mundial.

Infelizmente, o Brasil perdeu o sorteio, o que o obrigou a jogar com camisas azuis, do segundo uniforme. Esse episódio constituiu-se em um grande problema para os dirigentes, porque poderia representar, para os mais influenciáveis, a sensação de que o momento não estava favorável.

“Como vou sair dessa?”, pensou dr. Paulo a si mesmo.

Por ser devoto de Nossa Senhora Aparecida, durante o percurso de regresso à concentração brasileira, dr. Paulo disse que orou e pediu ajuda à santa para lhe dar a ideia de como transmitir aos jogadores – de forma positiva – a notícia de que as camisas seriam as azuis, do uniforme secundário.

Com as orações e sua fé, seus pedidos foram atendidos. Ao adentrar a concentração, onde os jogadores ávidos aguardavam a informação, causou surpresa com gritos eufóricos: “Ganhamos a Copa, Ganhamos a Copa, Ganhamos a Copa! Vamos jogar com as camisas que têm a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida!”.

No jogo decisivo, o Brasil ganhou por 5 a 2 e revelou o menino Pelé, com apenas 18 anos de idade, que se tornou alguns anos depois, o melhor futebolista do mundo.

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Luiz Carlos Secco é publicitário e fundador da Secco Consultoria de Comunicação. Profissional de comunicação especializado no setor automobilístico e esportes, atua como assessor de Imprensa desde 1986. Ao longo de sua carreira prestou serviços a diferentes clientes, entre montadoras e sistemistas e publicou artigos em diversas publicações. Atualmente, produz os podcasts Muito Além de Rodas e Motores e Mobilidade Inteligente. É também articulista da revista Acontece, de Caxias do Sul, RS.

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